sexta-feira, abril 08, 2011

A sombra da ervilha

Vou guardar cada ervilha! Tenho-as no bolso, ainda são algumas mas criaram uma capa protectora que as impedem de se esborracharem nos calções. Quero-as comigo, não vá um dia ter fome ou encontrar alguém a quem a/as possa oferecer.
Já aconteceu: no outro dia um menino de rua pedia-me um chupa, mas eu ofereci-lhe uma das ervilhas. Surpreso e desapontado mirou-me desde baixo até ao rosto, como que questionando-me:

" As coisas podem não ser o que parecem!Não te dei essa ervilha para comeres, mas sim para brincares!"

Ainda mais surpreendido voltou-me a questionar com o movimento ascendente e lento dos seus olhos que congelaram nos meus:

" Essa ervilha não é como as que conheces, ela não se esborracha ou destrói-se facilmente e por isso poderás usá-la como um Guelas Trunfo no dia em que a decidas usar..."

O menino mais surpreso do que nunca, inclinou novamente a cabeça, desta vez de cima para baixo, olhando para o bolso das calças, onde cuidadosamente guardou a ervilha que lhe dei...O sorriso tímido fugia-lhe das bochechas do rosto e assim que os seus olhos recruzaram os meus, desatou a correr pelo caminho, acarilhando e protegendo com as duas mãos o bolso e a ervilha. Corria desengonçado mas repleto de confiança. Penetrou na sombra da árvore que o engoliu...
Da sombra veio um bom som...